Dia destes revendo algumas cenas do filme Escola da Vida, parei um pouco para refletir acerca dos possíveis propósitos desses filmes que abordam o cotidiano escolar.
O que me chamou a atenção foi o fato de que sempre que surge um filme assim, pensa-se logo em exibí-lo para uma equipe de professores que sugere a exibição dos mesmos para os aprendentes. Parte-se da premissa de que estes filmes tem o poder de estimular nos estudantes – e por que não dizer nos educadores também -, a expectativa de mudanças de atitudes em relação à escola e a aprendizagem. O tema é sempre recorrente: alunos “indisciplinados”, desmotivados, freqüentando escolas caindo aos pedaços, pixadas, depredadas, tendo aulas medíocres (ou pouco interessantes) ministradas por um grupo de professores decrépitos e que, graças à sagacidade, carisma, criatividade e empenho profissional de um professor "popstar", são miraculosamente “transformados” em heróis, campeões da disciplina e aplicação aos estudos.
Foi justamente aí que comecei a ficar intrigado pois, ao contrastar a ficção com a realidade das nossas escolas. Estes filmes tendem a romantizar o ambiente escolar e a prática docente, transformando – a num conto de fadas, cujo final é um “...e viveram felizes para sempre.” A tendência é acreditar que se o professor for “diferente” o estudante vai mudar. A mídia deu um nome novo para este romantismo da prática docente, chamou – a de: criatividade. O professor bom é aquele professor criativo. Freqüentei uma universidade considerada a melhor da América Latina, assisti aulas com professores excelentes, mas não vi por lá criatividade no sentido que é veiculada por aí. O que será que ela tinha para atrair 150.000 inscritos concorrendo a 8.000 vagas? Com certeza não era a criatividade dos professores que estava atraindo tanta gente pra lá. Mas isto é papo pra outro texto. Vamos voltar pros filmes dos professores “ídolos”.
Será que os professores do mundo fora das telas conseguem tal proeza? Filmes tais como: Ao mestre com carinho; Adorável Professor; Os coristas; Mudança de hábito 1 e 2; Escola da Vida; Entre os muros da Escola; entre outros, todos eles sem exceção mostram a superação do mestre ante o marasmo e a mesmice das aulas. Acredito que a quase totalidade dos professores (e quem sabe os estudantes também) já assistiram ao menos um desses “clássicos”, no entanto não conheço nenhuma escola que tenha resolvido seus inúmeros problemas pedagógicos, administrativos e estruturais através da intervenção miraculosa do professor “popstar”; fosse ele o Sr. “D” (Escola da Vida), “Sister Mary Clarence” Mudança de Hábito 1 e 2), ou o “Professor Raimundo Nonato” da Escolinha do Professor Raimundo.
Outro ponto inquietante nestes filmes é a dinâmica da escola. Por mais “periféricas” – se é que são mesmo da periferia -, que possam parecer os estudantes circulam pelos espaços escolares, realizam atividades fora da sala de aula, vão a museus, teatros. As instalações físicas das escolas contam com anfiteatros, laboratórios de ciências, salas temáticas, etc.
Mas, e as escolas reais? São pensadas para favorecer tais atividades? Existe uma cultura verdadeiramente educativa (ou educacional) que tenha como prioridade tais práticas? Tais intervenções? Ou tudo isto é só parte da retórica? Ou quem sabe... Não seriam os professores reais (não aqueles do cinema) “popstars” a quem falta apenas um bom empresário e um bom palco?
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