domingo, 29 de maio de 2011

Déjà vu

Magnífica a prédica da honorável colega, professora Amanda ­Gurgel, a não ­ser o fato de que ao longo dos últimos anos, ­outros ­­colegas, professores terem proferidos discursos tão objetivos e tão contundentes quanto este, o que por si só justificaria o não escrever ou dizer nada mais que tivesse qualquer relação com o tema educação.

Ocorre que, uma espécie de inquietação me incomoda e me ponho a pensar o seguinte: Por que as palavras proferidas pela colega, ditas de forma tão concisa, incisiva e direta não provoca a mínima reação naqueles a quem ela é dirigida? Afinal, a palavra, desde quando entendo por gente sempre foi um instrumento eficaz utilizado pelas sociedades para se fazerem entender, comunicarem-se, estabelecerem suas relações, enfim, interagirem-se. Nessa perspectiva, a palavra assumia um peso tremendo, possuia um valor, tornava-se, se posso dizer, assim como que um organismo vivo, capaz de suscitar as mais variadas reações nas pessoas por ela atingidos.

A força da palavra era tão tremenda que tinha ela o poder de provocar revoluções, guerras, paz, mudanças nos rumos da história dos homens. Quem ousa questionar o poder que as palavras assumiram na boca de Ghandi, Martin Luther King, Adolf Hitler, Alexandre, O Grande, e no maior de todos: Jesus Cristo. Nas mãos (ou nas mentes) dos poetas, romancistas, filósofos. As palavras cumpriam, no dizer de Antonio Cândido, através da literatura, a missão de reordenar o nosso caos interior, conceito este com o qual concordo inteiramente.

No entanto, quando vejo que palavras como: Amor, Justiça, Liberdade, Maldito, Ladrão, Assassino, Traidor, Miserável, só para ficar naquelas mais comumente ouvidas hoje em dia, não chocam ninguém, fico perguntando: O que pode ter ocorrido com a força destas e de tantas outras palavras cujo sentido traz em seu gene a potência de forças incomensuráveis capazes de produzir naqueles que as ouvem as mais diversas reações? Por que será que elas não provocam mais naqueles a quem são dirigidas nenhuma reação? As palavras, outrora tão poderosas são agora como bolhas de sabão, que assumam o tamanho que assumirem ao colidir com um obstáculo espocam sem provocar nenhum impacto. São inertes, incapaes de produzir no ouvinte quaisquer reações. É como se as palavras agora fossem desprovidas completamente de sentido. Desconstruiu-se a Teoria de Ferdinand Saussurre, ou seja, não se observa nenhuma correspondência entre o signo e o objeto. Amor, Ódio, Ladrão, Assassino, etc. soam completamente desprovidas de significado, sem nenhum poder ou potência, tanto na boca de quem as pronuncia, quanto nos ouvidos de quem as ouve.

Creio ser esta a razão pela qual a prédica da honorável colega não surtirá efeito algum. Seu memorável discurso se transforma numa imensa bolha de sabão que ao espocar libera energia quase nula, insignificante, incapaz de inpactar, mover o objeto que se pretende atingir.

Diante de tal situação creio que a única forma de mudar este estado de coisas é um grande movimento por parte daqueles para quem a palavra falada ou escrita é um elemento forte o suficiente para operar mudança significativa nas mentes e nos corações daqueles cujos ouvidos forem atingidos por elas. E acredito que nesse mover tem papel crucial a figura do professor. “Quem tem ouvidos. Ouça...”

Carlos Augusto Ferreira Sacramento

Professor do Ensino Fundamental e Médio – Geografia

CEU EMEF Manoel Vieira de Queiroz Filho.


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